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Olhar... além de ver;
Sentir... enquanto contempla;
A beleza está nas pequenas coisas, no detalhe do olhar que representa.
Por Rosanita Moschini Vargas


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Tiê - Entregue-se
 




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Torradas Queimadas



Quando ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.
Naquela noite, minha mãe pôs um prato de ovos, lingüiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato.
Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.
Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada.
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
- Adorei a torrada queimada...
Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.
Ele me envolveu em seus braços e me disse:
- Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada...  Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas.
E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o melhor pai, mesmo que tente todos os dias!
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.
Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos os dois, a suprir um as falhas do outro. Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar cheiroso, de tão limpo. Eu não sei fazer uma lasanha como ela, mas ela não sabe assar uma carne como eu. Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo você tomava banho rápido, sem reclamar.
A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apóia, eu e ela nos completamos. Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes. Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo vá desmoronar, não vai. Novamente teremos que aprender e nos adaptar para fazer o melhor.
De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.
Então, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem dedica o precioso tempo da vida, a você e ao próximo.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse.

Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir!

Namastê


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Como amar uma criança*



A criança que você pôs no mundo pesa 10 libras. É feita com oito libras de água e um punhado de carbono, cálcio, azoto, sulfato, fósforo, potássio e ferro. Você deu à luz a oito libras de água e a duas libras de cinzas. Assim cada gota de seu filho era o vapor da nuvem, o cristal da neve, da bruma, do orvalho, da água da nascente e da lama de um esgoto. Milhões de combinações possíveis de cada átomo de carbono ou de azoto.

Você apenas reuniu o que já existia.

Olhe a Terra suspensa no infinito.

O Sol, seu próximo companheiro, está a 50 milhões de milhas.

Nosso pequeno planeta não é mais que 3.000 milhas de fogo recoberto por uma película que tem apenas dez milhas.

Sobre essa fina película, um punhado de continentes jogados entre os oceanos.

Sobre esses continentes, no meio das árvores, arbustos, pássaros e animais – o ruído dos homens.

Entre estes milhões de homens, está você, que deu à luz a um homem a mais. O que é ele? Um galinho, uma poeira – um nada.

É tão frágil que uma bactéria pode matá-lo; uma bactéria que aumentada mil vezes é apenas um ponto no campo visual.

Mas este nada é irmão das vagas do mar, do vento, do relâmpago, do Sol, da Via Láctea. Este grão de poeira é irmão da espiga do milho, da relva, do carvalho, da palmeira, irmão de um passarinho, do filhote de leão, de um potrinho, de um cãozinho.

Neste nada há qualquer coisa que sente, deseja, observa; que sofre e que odeia; que é feliz e que ama; que tem confiança e que duvida; que acolhe e que rejeita.

Este grão de poeira encerra o seu pensamento as estrelas e os oceanos, as montanhas e os precipícios. E o que é a essência da alma senão todo o Universo, faltando apenas as suas dimensões.

É esta a contradição inerente ao ser humano: nascido de um quase nada, Deus está nele."


* Janusz Korczak ainda é pouco conhecido no Brasil mas é uma das maiores influências inspiradoras em movimentos de abertura para novas práticas educativas hoje em dia. Korczak era diretor de um orfanato na polônia na época da segunda guerra e tinha grande talento literário. Fez a passagem no campo de concentração de Treblinka em uma câmera de gás, junto com as 200 crianças de seu orfanato, que protegeu e educou com vigor e alegria até o fim, mesmo em face das adversidades da guerra e do gueto.

Leia na íntegra:
http://cronicasdofrank.blogspot.com/2009/10/como-amar-uma-crianca.html


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Mude sua forma de ver as coisas que todas as coisas mudarão a forma de se apresentar a ti.



 Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.
Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.



Por isso decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados, então precisavam fazer uma escolha:
Ou desapareceriam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.
Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos.
Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro..

E assim sobreviveram.

Moral da História


A melhor amizade não é aquela que une pessoas perfeitas,
mas aquela onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro, e admirar suas qualidades.
"Tomara que os espinhos que a vida nos dá, não sejam maiores que o calor que podemos, gentilmente, oferecer..."




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O olhar do professor*
Eugenio Cunha**






Ao mesmo tempo em que são sensores do corpo, os olhos são reflexos dele. Ao mesmo tempo em que impactam, são impactados. É interessante a metáfora que há entre os olhos, com relação ao corpo e o professor, com relação à educação. Os olhos percebem a luz e transmitem as informações das imagens ao cérebro que as transformam em conhecimento. O professor não pode sozinho gerar o conhecimento, assim como os olhos, mas é o mediador da sua concepção, podendo levar luz ou manter o educando na obscuridade. “Se teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz”
Os olhos expressam as reações do nosso organismo como a dor, a alegria, a tristeza, o sorriso, a lágrima. Há pessoas que sorriem com os olhos. Dizem com os olhos o que não dizem com as palavras. Os olhos são expressões das nossas emoções. Com eles acolhemos ou rejeitamos, focamos ou ficamos dispersos. Expressamos com o nosso corpo, em gestos, o que nossos olhos confessam, sem exigências de palavras.
Os olhos têm o poder de encorajar-nos, e ganham intrepidez na verdade. De quando em vez, desviam-se para ocultar enganos. Insistem em olhar quando falam de amor; distraem-se, quando falam descompromissadamente. Os olhos do aluno estão sempre mirados no professor e, em alguns momentos, mostram reverência. Quando o professor retribui o seu olhar, o aluno constrói sua segurança. É a disponibilidade do olhar do professor para o aluno que encurtará a distância entre os dois.
Em todos os momentos da sua aula o professor fala ao aluno, mas nem sempre o escuta. Seus gestos são sempre observados e, da mesma forma que ele deixa as suas impressões, o aluno deseja deixar as suas. Se o professor é dinâmico, a turma dinamiza-se. Se é divertido, a turma descontrai-se. Se usar de carranca, as aulas tornam-se carrancudas. As impressões deixadas pelo professor podem virar digitais na identidade do educando, porque seus olhos observam o professor em toda sua maneira de ser. No espaço da sala de aula, o professor será o modelo. A responsabilidade, naturalmente, é bem grande.
Nesse contexto, é apropriado ao professor olhar o aluno com grande acuidade: o aluno não precisa ser sua imagem refletida, um amálgama seu. Cada aluno é um ser único que precisa conquistar sua identidade. O respeito a essas diferenças é que formará a sua autonomia e o resgate da sua segurança para ser o que deve vir a ser. Diferenças na educação são superadas pela maneira como o professor olha seu aluno. Ele é o mediador em sala. Decerto, quem deverá dar o primeiro passo, criando oportunidades para o enriquecimento das relações de aprendizagem.
Olhar com acuidade significa olhar com zelo, com percepção. Olhar os olhos do aluno. Não somente ver as coisas visíveis, mas as que ainda não foram reveladas. Os anseios, ansiedades, dúvidas e sonhos, o que não se revela, muitas vezes, em palavras. O olhar do aluno é potencialmente revelador. Quando descortinado ganham significância na relação com o professor.

* Fonte: http://www.eugeniocunha.com/index.php
**Doutorando e mestre em educação, psicopedagogo, jornalista, palestrante, pesquisador do GRUPPE/UFF/CNPq, professor do Sistema Montessori e da Faculdade Cenecista de Itaboraí. Autor dos livros: “Afeto e aprendizagem”, “Autismo e inclusão”,  “Afetividade na prática pedagógica” e "Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade", publicados pela WAK Editora.