sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Reaprender, desprendendo-se...
Nos caminhos pelos quais trilhamos, muitos são os obstáculos... alguns mentais outros nem tanto.
É sobre caminho que desejo escrever.
Trilhamos caminhos baseados em escolhas, em alternativas... Muitas vezes escolhas vinculadas a escolhas anteriores que envolvem aspectos concretos, objetivos e, também, subjetivos.
Ter a capacidade de escolha é uma condição relacionada com o aprender, é psicopedagógico por vincular-se ao desejo, ao processo de busca, de desprender-se para assim aprender...
Certa vez alguém me disse que só há desejo quando há falta. A falta gera o desejo. O investimento, só ocorre perante o desejar. Se há desejo, há sonho...
Portanto, concluo, que há quem investe e há queles que apenas esforçam-se. Estes não se permitem sonhar...
Complexo, não?
Pois é sobre isso que há algum tempo penso... relacionando com a psicopedagogia e com minha trajetória como aprendente num mundo pouco ensinante. O quanto é complexo as relações entre o desejar, o sonhar, o investir e o concretizar...
A tendência é pensar que o que se deseja está distante, não somos merecedores... não estamos adequados, não compartilhamos dos padrões... Mas o que é merecimento? O que é adequação? E padrões, o que são?
Aí vem a vida e nos mostra que estamos vivos, que é preciso mutar-se, metamoforsear-se... quebrar paradigmas, conceitos e, principalmente, (pre)conceitos... Aventurar-se em ser o que se é... inacabado, incompleto.
Lembro-me dos versos de Álvaro de Campos que diz "sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de mim..." Sou intervalo... o "entre", quem sabe?
Nesse processo, lembro-me de Alicia Fernandez, que em nossos encontros, ao falar dos Moinhos de Vento, faz uma analogia entre a função da psicopedagogia e a capacidade do moinho, a partir da força das tempestades, mover-se e fazer emergir da terra árida, água... e assim, permitir germinar sementes.
Pensar psicopedagogicamente é pensar que mesmo na adversidade é possível fazer emergir a potência criativa, a capacidade de aprender.
Psicopedagogia vai muito além de uma prática, seja ela clínica, institucional, hospitalar. É uma postura frente à vida. É saber retirar o melhor de cada momento, por mais difícil que pareça. É permitir-se saborear o gosto da vitória, sem ser presunçoso, arrogante... É olhar, escutar, discernir... Distanciar-se para poder contemplar.
Frente a minha leitura de mundo, isso é fazer psicopedagogia!
Portanto, ser psicopedagogo não é apenas seguir um caminho, formatar-se à ele... ao contrário! Ser psicopedagogo é permitir-se tornar-se psicopedagogo. E isso não se constrói com um diploma de graduação/ especialização. Esse caminho se constrói trilhando, essa postura se constitui frente às situações apresentadas pela vida e o que você faz com elas... Isso inclui ética!
Sinto-me muito feliz com o caminho escolhido!
E surpreendo-me que, sem nem mesmo saber, essa escolha já havia sido feita muito antes de eu dar-me conta dela. Porque postura psicopedagógica não se compra na loja da esquina, ela se constitui dia-a-dia. E engana-se quem pensa que é fácil... Não é nada fácil! Pode ser doloroso! É preciso desconstruir, desfazer, desaprender, desprender-se... para assim se reencontrar.
Por Rosanita Moschini Vargas
Primavera/2011.
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