terça-feira, 2 de agosto de 2011

Desfazer, refazer, fazer...(não necessariamente nessa ordem)

Por Rosanita Moschini Vargas

Construções, reconstruções em busca de mim mesma, na teia da vida...

De muitos “fios” somos feitos... Uns mais espessos outros mais frágeis. Mas lá estão eles a nos tecer- tecendo, alinhando-desalinhando, envolvendo e desassossegando...

Às vezes me pergunto, de quê sou feita? Como me tornei o que sou hoje? Como desejo estar amanhã?
Questões que desassossegam e inquietam e nos fazem sair do estado de comodismo e buscarmos o percurso, o caminho, o movimento da busca, da realização...

Existe algo em mim que me inquieta. Não consigo estar estática, imóvel, definida... Sou um turbilhão de sentimentos, os quais nem sempre são traduzidos. Ficam no intervalo... Sim, aquela lacuna, a entrelinha... O não dito, não professado. Gosto da citação “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim...” de Álvaro de Campos.

Um dos fios que minha mãe me entregou foi o da persistência... Seu exemplo de vida e batalha sempre esteve presente em meus dias. Minha mãe foi uma mistura de pai e mãe... Mulher de fibra e trabalhadora, sempre buscou sua independência. Batalhando por seu espaço. Vejo-me assim muitas vezes, buscando um lugar ao sol... Uma identidade, um lugar que eu possa chamar de meu.

Meu pai me entregou o fio da flexibilidade... Frente a sua profissão de viajante... Saia na segunda-feira e retornava na sexta-feira. Era vendedor. Vendia açúcar e café. E entre idas e vindas, entre sentimentos de saudade e alegria, de presença e ausência, fomos vivendo. 

Durante um período de vida neguei o “ancestral” em busca de uma identidade própria, sem dar-me conta dos fios que me conduziam, das contribuições, dos exemplos, gestos e palavras. Tudo isso com o sentimento de “não reproduzir padrões”. Mas nesse caminho me perdi... Em mim mesma.
Perda no sentido de perder-se dos “fios”, perder o itinerário...

Não faz muito tempo que parei para analisar minha vida nos últimos cinco anos. Em 2007 fui morar numa cidade no interior do RS, devido à transferência de meu esposo. Precisei reconstruir pontes, me recolocar profissionalmente, criar novos vínculos, conhecer nova cultura, nova cidade, um novo lugar... Com isso passei a ser viajante e encontrar em mim a flexibilidade e persistência para autorizar-me recomeçar. Até que... Nessa cidade, que hoje chamo de minha tornei-me mãe.
Desejo que sempre me acompanhou... E nesse enredo, descobri-me.

Não sou a mãe que tive, pois não sou a minha mãe. Sou a mãe que posso ser. E nesse caminho novos fios são tecidos.

No processo de tornar-se mãe, que a meu ver não está relacionado com o nascimento do filho e sim, com o tecer dos fios, me reencontro no reflexo do olho de minha filha e ela na sua ingenuidade de uma menina de dois anos me diz: “Olha Nena, olha Nena, mamãe...” Apontando para o seu reflexo em meus olhos...

Está aí mais um punhado de fios... Entre eu e minha filha Helena.

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